quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Senhores da serra

Pelos meados de julho, quando a chuva já não cai e o mar de morros começa a amarelar, surge imponente, entre todas as folhas que vão murchando, a vivacidade do sanandu. Os galhos despidos das folhas se enfeitam com o vermelho marcante dos cachos de flores que se refletem e iluminam pelo prateado das folhas de embaúba que circundam sua estatura de gigante.
Aparece na hora certa, no alvorecer da estiagem. No declínio das demais, engrena sua subida. Sem qualquer modéstia, ocupa o trono que reveza com o amarelo inconfundível do ipê. Capta, desinibido, a atenção dos que passam e faz dos olhares distraídos seus exaltados admiradores. É árvore inteligente, bem ensinada, excelso e providente exibicionista. Por sua beleza calculada, deixa o aviso sazonal em suas pétalas purpúreas.
Alerta, em tons rubros como sangue, sobre a importância da espera, de conhecer-se a cada tempo, de lançar cada semente no momento mais propício. Ensina que comedir-se, por vezes, pode ser a melhor opção. Despertar às oito nem sempre é tão produtivo que acordar ao meio-dia. Que seria, pois, do sanandu se florescesse precocemente junto do esplendor de suas concorrentes vegetais?
Saibamos, assim, tal como os senhores ruborizados da serra, esperar os nossos meados de julho enquanto preparamo-nos para que o carmesim de nossas autenticidades não se confunda com mais um borrão colorido no rico seio desta imensa Mata Atlântica social.