Pelos meados de julho, quando a
chuva já não cai e o mar de morros começa a amarelar, surge imponente, entre
todas as folhas que vão murchando, a vivacidade do sanandu. Os galhos despidos
das folhas se enfeitam com o vermelho marcante dos cachos de flores que se
refletem e iluminam pelo prateado das folhas de embaúba que circundam sua
estatura de gigante.
Aparece na hora certa, no
alvorecer da estiagem. No declínio das demais, engrena sua subida. Sem qualquer
modéstia, ocupa o trono que reveza com o amarelo inconfundível do ipê. Capta,
desinibido, a atenção dos que passam e faz dos olhares distraídos seus
exaltados admiradores. É árvore inteligente, bem ensinada, excelso e providente
exibicionista. Por sua beleza calculada, deixa o aviso sazonal em suas pétalas
purpúreas.
Alerta, em tons rubros como
sangue, sobre a importância da espera, de conhecer-se a cada tempo, de lançar
cada semente no momento mais propício. Ensina que comedir-se, por vezes, pode
ser a melhor opção. Despertar às oito nem sempre é tão produtivo que acordar ao
meio-dia. Que seria, pois, do sanandu se florescesse precocemente junto do esplendor
de suas concorrentes vegetais?
Saibamos, assim, tal como os
senhores ruborizados da serra, esperar os nossos meados de julho enquanto
preparamo-nos para que o carmesim de nossas autenticidades não se confunda com mais
um borrão colorido no rico seio desta imensa Mata Atlântica social.